Translate

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Tu não eras assim…


Hoje um colega da antiga empresa onde trabalhei iniciou funções na empresa onde eu trabalho agora.
Tem um regime diferente do meu. Eu sou funcionária interna e ele é um consultor contratado a uma empresa de Outsourcing.
Quando me viu sorriu e os olhos dele brilharam imenso. Vi que estava feliz por me ver. Devia estar ansioso por ser o primeiro dia dele e ao ver alguém familiar ficou entusiasmado.
Retribui o sorriso e estive a falar com ele durante algum tempo.
Foi o suficiente para me ter dito:
- Estás diferente…Tu não eras assim…
Vi a desilusão na cara dele, fingi que ignorei e respondi:
- Sim é verdade. Estou muito diferente.
Pensei agora sou mesmo bitch.
Desejei-lhe boa sorte e fui embora.

Estou até agora a moer nisto, esta máscara que criei por vezes quase cai. Não me sinto orgulhosa da minha nova persona mas esta frieza é apenas por precaução.  

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A minha rua

O meu escritório fica no centro da cidade. É o caus para chegar ao trabalho todos os dias,  de tal forma que deixei de levar o carro. Vou de autocarro quase todos os dias. É mais rápido e ajudo na diminuição da emissão de gases. Tive de me adaptar a esta nova rotina e logística. Sinto-me uma miúda na faculdade ao andar de transportes públicos. As minhas amigas ‘tias’ gozaram, acharam graça ao facto de eu ir de autocarro com a ‘gente tronchuda do povo’. Quem realmente goza sou eu, chego mais cedo ao trabalho, gasto menos em combustível e não pago parque de estacionamento.
Já ‘controlo’ a rua onde trabalho, quando vou de autocarro tenho de andar um pouco a pé.
Passo pela costureira da rua, já me conhece de lhe levar os uniformes do meu filho para arranjar. Cumprimento-a, mais à frente é a vez do porteiro do instituto de inglês. Entretanto chego ao café e tenho quase sempre a companhia de dois senhores que trabalham no meu escritório. Têm os dois idade para serem meus pais, sinto-me a Miss Piggy no meio dos velhotes dos Marretas.  Ficam todos contentes por lhes fazer companhia, reparei que os mais novos da empresa raramente falam com eles. Eu digo-lhes sempre ‘Bom dia Srs. Engenheiros’ e sento-me a tomar um chá com eles. Sim, um chá! Deixei finalmente de tomar café! Nem dá para acreditar, tão dependente de café e consegui.
Os proprietários do café, são dois irmãos. Ele serve os clientes e ela faz os bolos. Todos os dias se metem comigo para ver se como um bolo e/ou bebo um café. Tratam-me por “Princesa” e dizem que tenho que manter o meu corpinho de sereia. São uns queridos.
Ao entrar no edifício do escritório o segurança pergunta-me sempre se trouxe carro para estacionar no parque. Quando não tenho lugar no parque estaciono no lugar que o arrumador me indica. Dou-lhe duas moedas, uma para ele tirar o bilhete se o fiscal vier e a outra para ele. Aposto que ficar sempre  com a duas moedas mas não sou multada. O arrumador é engraçado, tem um chapéu estranho, é muito gordo e tem um sotaque que dá para perceber que não é português. Um dia perguntou-me se eu era do cinema ou da televisão. Disse-me que eu devo ser uma pessoa importante porque tenho um carro muito bonito e porque uso chapéu.
À hora do almoço habitualmente levo a minha comida mas também já tenho um restaurante preferido, chama-se ‘Chic Dream’. Quando me sento já sabem o que eu quero, servem logo a minha sopa e a minha água natural. Já não perguntam se quero sobremesa nem café. Se o prato do dia tiver produtos lácteos ou carne de porco avisam-me. Sinto-me mimada.

Podia ser tudo perfeito não fosse a porcaria de trabalho que faço.