O meu escritório fica no centro da cidade. É o caus para
chegar ao trabalho todos os dias, de tal
forma que deixei de levar o carro. Vou de autocarro quase todos os dias. É mais
rápido e ajudo na diminuição da emissão de gases. Tive de me adaptar a esta
nova rotina e logística. Sinto-me uma miúda na faculdade ao andar de
transportes públicos. As minhas amigas ‘tias’ gozaram, acharam graça ao facto
de eu ir de autocarro com a ‘gente tronchuda do povo’. Quem realmente goza sou
eu, chego mais cedo ao trabalho, gasto menos em combustível e não pago parque
de estacionamento.
Já ‘controlo’ a rua onde trabalho, quando vou de autocarro
tenho de andar um pouco a pé.
Passo pela costureira da rua, já me conhece de lhe levar os
uniformes do meu filho para arranjar. Cumprimento-a, mais à frente é a vez do porteiro
do instituto de inglês. Entretanto chego ao café e tenho quase sempre a
companhia de dois senhores que trabalham no meu escritório. Têm os dois idade
para serem meus pais, sinto-me a Miss Piggy no meio dos velhotes dos Marretas. Ficam todos contentes por lhes fazer
companhia, reparei que os mais novos da empresa raramente falam com eles. Eu
digo-lhes sempre ‘Bom dia Srs. Engenheiros’ e sento-me a tomar um chá com eles.
Sim, um chá! Deixei finalmente de tomar café! Nem dá para acreditar, tão
dependente de café e consegui.
Os proprietários do café, são dois irmãos. Ele serve os clientes e
ela faz os bolos. Todos os dias se metem comigo para ver se como um bolo e/ou
bebo um café. Tratam-me por “Princesa” e dizem que tenho que manter o meu
corpinho de sereia. São uns queridos.
Ao entrar no edifício do escritório o segurança pergunta-me
sempre se trouxe carro para estacionar no parque. Quando não tenho lugar no
parque estaciono no lugar que o arrumador me indica. Dou-lhe duas moedas, uma
para ele tirar o bilhete se o fiscal vier e a outra para ele. Aposto que ficar
sempre com a duas moedas mas não sou
multada. O arrumador é engraçado, tem um chapéu estranho, é muito gordo e tem
um sotaque que dá para perceber que não é português. Um dia perguntou-me se eu
era do cinema ou da televisão. Disse-me que eu devo ser uma pessoa importante
porque tenho um carro muito bonito e porque uso chapéu.
À hora do almoço habitualmente levo a minha comida mas
também já tenho um restaurante preferido, chama-se ‘Chic Dream’. Quando me
sento já sabem o que eu quero, servem logo a minha sopa e a minha água natural.
Já não perguntam se quero sobremesa nem café. Se o prato do dia tiver produtos lácteos
ou carne de porco avisam-me. Sinto-me mimada.
Podia ser tudo perfeito não fosse a porcaria de trabalho que
faço.