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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A minha rua

O meu escritório fica no centro da cidade. É o caus para chegar ao trabalho todos os dias,  de tal forma que deixei de levar o carro. Vou de autocarro quase todos os dias. É mais rápido e ajudo na diminuição da emissão de gases. Tive de me adaptar a esta nova rotina e logística. Sinto-me uma miúda na faculdade ao andar de transportes públicos. As minhas amigas ‘tias’ gozaram, acharam graça ao facto de eu ir de autocarro com a ‘gente tronchuda do povo’. Quem realmente goza sou eu, chego mais cedo ao trabalho, gasto menos em combustível e não pago parque de estacionamento.
Já ‘controlo’ a rua onde trabalho, quando vou de autocarro tenho de andar um pouco a pé.
Passo pela costureira da rua, já me conhece de lhe levar os uniformes do meu filho para arranjar. Cumprimento-a, mais à frente é a vez do porteiro do instituto de inglês. Entretanto chego ao café e tenho quase sempre a companhia de dois senhores que trabalham no meu escritório. Têm os dois idade para serem meus pais, sinto-me a Miss Piggy no meio dos velhotes dos Marretas.  Ficam todos contentes por lhes fazer companhia, reparei que os mais novos da empresa raramente falam com eles. Eu digo-lhes sempre ‘Bom dia Srs. Engenheiros’ e sento-me a tomar um chá com eles. Sim, um chá! Deixei finalmente de tomar café! Nem dá para acreditar, tão dependente de café e consegui.
Os proprietários do café, são dois irmãos. Ele serve os clientes e ela faz os bolos. Todos os dias se metem comigo para ver se como um bolo e/ou bebo um café. Tratam-me por “Princesa” e dizem que tenho que manter o meu corpinho de sereia. São uns queridos.
Ao entrar no edifício do escritório o segurança pergunta-me sempre se trouxe carro para estacionar no parque. Quando não tenho lugar no parque estaciono no lugar que o arrumador me indica. Dou-lhe duas moedas, uma para ele tirar o bilhete se o fiscal vier e a outra para ele. Aposto que ficar sempre  com a duas moedas mas não sou multada. O arrumador é engraçado, tem um chapéu estranho, é muito gordo e tem um sotaque que dá para perceber que não é português. Um dia perguntou-me se eu era do cinema ou da televisão. Disse-me que eu devo ser uma pessoa importante porque tenho um carro muito bonito e porque uso chapéu.
À hora do almoço habitualmente levo a minha comida mas também já tenho um restaurante preferido, chama-se ‘Chic Dream’. Quando me sento já sabem o que eu quero, servem logo a minha sopa e a minha água natural. Já não perguntam se quero sobremesa nem café. Se o prato do dia tiver produtos lácteos ou carne de porco avisam-me. Sinto-me mimada.

Podia ser tudo perfeito não fosse a porcaria de trabalho que faço. 

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